Nasce, em 1854, o Coronel Pedro Osório

Quando: 31/Dezembro/1853, 20:53

Por Rodrigo Netto
11/01/2011 21:20
Atualizado em 19/09/2017 14:41
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Em 9 de junho de 1854 nascia no povoado de Nossa Senhora da Assunção de Caçapava, atual Caçapava do Sul, PEDRO LUÍS DA ROCHA OSÓRIO, filho do Major José Luís Osório e Florinda da Rocha Osório, o sétimo de dez filhos. Doze anos mais tarde, órfão de pai e mãe, começou a trabalhar como tropeiro. Em 20 de junho de 1871, chegou a Pelotas aos 17 anos de idade, empregando-se como caixeiro na loja de tecidos de Januário Joaquim Amarante e mais tarde, em 1875, caixeiro da Charqueada Boa Vista de Francisco Antunes Gomes da Costa, Barão do Arroio Grande. 

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Em 9 de junho de 1854 nascia no povoado de Nossa Senhora da Assunção de Caçapava, atual Caçapava do Sul, PEDRO LUÍS DA ROCHA OSÓRIO, filho do Major José Luís Osório e Florinda da Rocha Osório, o sétimo de dez filhos. Doze anos mais tarde, órfão de pai e mãe, começou a trabalhar como tropeiro. Em 20 de junho de 1871, chegou a Pelotas aos 17 anos de idade, empregando-se como caixeiro na loja de tecidos de Januário Joaquim Amarante e mais tarde, em 1875, caixeiro da Charqueada Boa Vista de Francisco Antunes Gomes da Costa, Barão do Arroio Grande. 

Depois, em 1878, nomeado administrador e gerente da empresa do Barão, começou o segundo período de sua vida comercial, quando completaram-se seus conhecimentos na indústria do charque, revelando-se um industrialista de futuro, a quem não faltavam as boas experiências do passado, a capacidade realizadora e o senso de direção empresarial. Dois anos mais tarde, o Barão o convidou para sócio da indústria, com a participação de um terço dos lucros. Pedro Osório aceitou e continuou progredindo até o fim da safra de 1885, quando, já experiente e contando com um capital de dezoito contos de réis, lançou-se por conta própria na industrialização da carne. 

A Charqueada do Cascalho 

Pedro Osório conseguiu contagiar com o seu entusiasmo ao comendador Antônio da Costa Correa Leite e a Antônio Rodrigues Cordeiro, tendo-lhe o primeiro posto à disposição todos os recursos necessários para a consecução dos seus planos, antevendo, no jovem charqueador, o início de um grande obreiro da indústria e do comércio pelotense. 

Foi contando com a confiança desses dois homens que ele iniciou em 1886 a sua primeira indústria, comprando de Leonídio Antero da Silveira o estabelecimento denominado Cascalho, à margem direita do Arroio Pelotas, envelhecido e quase inteiramente desmontado, que teve como seu primeiro proprietário Domingos de Castro Antiqueira, o Visconde de Jaguary. 
Pedro Osório reformou o Cascalho, adaptando-o às exigências da indústria já modernizada, fazendo-o funcionar em dois anos Ao encerrar-se o balanço da safra de 1887, Pedro Osório havia elevado a cento e treze contos de réis o seu capital, multiplicando várias vezes o magro capital com que começara, e dando-lhe um alto conceito no comércio exportador do charque e aumentando sua ação no setor. Nesta charqueada foi produzido pela primeira vez charque no sistema platino. 
Em 1888, comprou a Charqueada do Areal de Bernardino Rodrigues Barcelos, da Costa da Cia. Pastoril e Industrial do Sul do Brasil, e São Gonçalo. Nesta época, foi um dos fundadores da União Republicana, participando de comícios e reuniões públicas para difundir as idéias republicanas e abolicionistas. Após a morte de Piratinino de Almeida, assumiu a chefia do Partido Republicano, permanecendo no cargo até a sua morte. Tornou-se o chefe político mais importante da zona sul do estado. Instalado o regime republicano, fez parte da 1ª Junta Administrativa de Pelotas, criada para implantar a organização republicana na administração do município. 

No ano seguinte, constituiu a firma Pedro Osório & Cia., em sociedade com o Coronel Alberto Rosa, parceria que se estenderia até 1922, para ampliar os negócios do charque e tudo o que se relacionasse com a pecuária. 

Em 1891 casou-se com Maria Cecília Alves Pereira. 

Em 1894 foi nomeado Comandante Superior da Guarda Nacional, recebendo no mesmo ano as honras de Coronel do Exército, por relevantes serviços prestados à república. 

Nos anos seguintes, desenvolveu suas atividades nas Charqueadas Pelotas e São Gonçalo. 

Em 1903 foi nomeado Vice-presidente do Estado no governo de Borges de Medeiros. 
Em 1907 fundou a Charqueada de Tupanceretan, a pioneira na região da serra, trazendo progresso espantoso ao então povoado, sendo por isto considerado pela população local como patrono do vilamento de Tupanciretã. 

O Rei do Arroz 

Até hoje o Rei do Arroz, como o coronel Pedro Osório ficou conhecido no Brasil e no mundo, é referência de empreendedorismo. Um homem que não esperou declinar o ciclo do charque para sair em busca de novas alternativas econômicas. Investiu - e forte - no plantio e beneficiamento do cereal. Era um visionário na zona sul, no final do século XIX. 

O início de um novo ciclo econômico 

Em 1907, na propriedade do Cascalho - à margem direita do arroio Pelotas – local da sua primeira charqueada, o coronel faz sua primeira plantação de arroz. No ano seguinte, para beneficiar o arroz, construiu o Engenho do Cascalho e, a seguir, comprou uma frota de 14 barcos de pequena cabotagem para transporte dos produtos de suas lavouras e charqueadas. 
Em 1912, viajou para a Estação Experimental de Rizicultura de Vercelli, na Itália, para aprender novas técnicas de cultivo com o professor Novello Novelli, mundialmente reconhecido como grande mestre de orizicultura. Na Alemanha adquiriu maquinário para ampliar o engenho do Cascalho. Foi decidida a construção e montagem do grande Engenho São Gonçalo, ao lado da charqueada do mesmo nome, com capacidade para beneficiar 700.000 sacos de arroz em casca, 1.200 sacos em dez horas, na época o maior engenho da América do Sul. Junto ao engenho construiu um cais de alvenaria onde atracavam as embarcações. Nas granjas do Cotovelo e Cascalho são plantados 30 mil pés de eucalipto, combustível às fornalhas de levantes e engenhos. 

Durante a primeira guerra mundial, com a interrupção da importação do arroz italiano, Pedro Osório conseguiu introduzir o seu produto nos exigentes mercados da Argentina e Uruguai. Findo o conflito mundial, soube superar o produto italiano em qualidade e preço. 

Em 1917 introduziu o sistema de parceria agrícola, primeiro nas lavouras de arroz, e depois, já no plantio em grande escala da batata. De suas lavouras partiram as primeiras iniciativas de conservação da fertilidade das terras e melhoria das pastagens pela drenagem e adubação sistemática. Foi um criador esclarecido e um dos maiores invernadores de gado de corte e ovinos de Pelotas e da região serrana. Foi um dos primeiros importadores e o introdutor no estado de raças americanas de suínos. Durante a primeira guerra mundial exportou carne para a Europa. 

Foi o pioneiro no Brasil na instituição de seguro de vida para seus funcionários; criou em suas propriedades um sistema de atendimento médico, escolas e condições de melhoria da qualidade de vida, com boas casas e salários justos. Defendia o ensino gratuito. Em 1919, convidado por Epitácio Pessoa para o cargo de Ministro da Agricultura, recusou-o, indicando o Dr. Ildefonso Simões Lopes para o cargo. 
Faleceu em Palmeira no dia 28 de fevereiro de 1931 - quando um derrame cerebral interrompeu suas férias. Seu corpo foi transportado em trem especial a Pelotas precisando parar nas estações de Cruz Alta, Tupanciretã, Júlio de Castilhos, Santa Maria, Bagé, Pedras Altas, Cerro Chato, Piratini, Arroio Grande, Passo das Pedras, Capão do Leão, Teodósio e Basílio. Em todas elas recebendo homenagens da população e autoridades, que engrossavam o comboio.Seu enterro foi o maior ocorrido em Pelotas, com uma multidão calculada em torno de 20.000 pessoas. 

Em carta ao presidente interino da Sociedade Nacional de Agricultura – a uma semana de sua morte -, Pedro Osório reivindica questões hoje ainda em pauta, resumindo os problemas da época na falta de crédito, no alto preço dos tributos e transporte e necessidade de formação gradativa da pequena propriedade. 

 

Fontes: 
ABUCHAIM, Vera. Cel. Pedro Luís da Rocha Osório. 12ª Fenadoce. Câmara de Dirigentes Lojistas de Pelotas. Pelotas, 2004. 
FERREIRA, Michele. O balconista que virou rei. Diário Popular. Pelotas, ano 114, n.274, p.3, 9 jun 2004. 
RHEINGANTZ, Carlos Guilherme. O charqueador. Diário Popular. Pelotas, ano 114, n.274, p.3, 9 jun 2004.