O Caso MST

d) "MST em Pedro Osório"

Por Alexandre de Oliveira
25/08/2007 16:56
Atualizado em 19/09/2017 14:41
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O artigo abaixo, intitulado "MST em Pedro Osório", foi escrito por Marta Sousa Costa e não representa a opinião do pedroosorio.net.

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O artigo abaixo, intitulado "MST em Pedro Osório", foi escrito por Marta Sousa Costa e não representa a opinião do pedroosorio.net.

Você pode entrar em contato com Marta através do e-mail [i]mfsc@vetorial.net[/i].

O artigo

"Em frente ao salão paroquial da cidade de Pedro Osório,RS, aguardávamos a abertura do portão de acesso à audiência pública solicitada pelo Ouvidor Agrário Nacional, com o objetivo de debater a Reforma Agrária.

Representantes de entidades do comércio, da indústria e do agronegócio, que de maneira alguma são contra a Reforma Agrária, lá estavam para questionar a forma como ela vem sendo conduzida, pois municípios como Herval, com enorme área desapropriada entre 1994 e 1999, figuram entre os que mais empobreceram no RS, no período de 1994 a 2004.

Por outro lado, há exemplos de reforma agrária bem sucedida, como a do Banco da Terra (Arapã), ao lado do Assentamento Novo Pedro Osório (MST), que não gera conflitos, trazendo o desenvolvimento socioeconômico, de maneira sustentável.

Embora os portões da audiência ainda estivessem fechados, lá dentro estavam integrantes do MST, gritando que saíssemos dali, que só os seus iriam entrar, pois a �audiência era do povo�. De repente, um outro grupo de sem-terra, que se dirigia para o Fórum, surpreendendo a todos, virou a esquina em direção aos produtores rurais, que aguardavam em frente ao salão paroquial. Numa formação militar em forma de cunha, abriram caminho entre os produtores rurais, empunhando bandeiras e taquaras ponteagudas.

Ficamos, eu e outros, prensados entre o portão de ferro e a massa de sem-terras que entrara no meio dos produtores rurais. Eu me segurava no portão, já de frente para o conflito. Lá de dentro, um homem tentava desprender a minha mão, enquanto uma sem-terra me sacudia, gritando que saísse dali. Ao redor, cidadãos eram empurrados, para que não entrassem no recinto da audiência. Quando o presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos fez menção de entrar, foi violentamente jogado de volta. Um integrante do MST atingiu com um tijolo o rosto de um produtor de 73 anos, próximo a mim. O segundo produtor caiu, também com um tijolo no rosto. Um veterinário, atingido por um golpe nas costas, virou-se para reagir e ficou sem ação, quando viu que a arma utilizada era um bebê nas mãos de uma mulher.

Seguiu-se violento confronto, com tijolos jogados de dentro do prédio e mastros de bandeira estocados através das grades. A Brigada Militar interveio, os produtores se afastaram, mas os tijolos continuaram sendo arremessados de dentro do prédio, enquanto os militares eram impedidos de controlar a situação, com a massa humana formada pelos sem-terras tentando fechar os portões.

A muito custo, a Brigada Militar conseguiu dominar a situação. A audiência foi suspensa. O Ouvidor Agrário, protegido pela Polícia Federal, entrou no salão paroquial e ouviu o MST, mas em nenhum momento ouviu o outro lado, os cidadãos e produtores rurais posicionados na calçada em frente. Aos de fora, ficou a nítida impressão de que o nome de Audiência Pública acobertava na verdade uma audiência privada onde INCRA, MST e Ouvidoria falariam a mesma língua, sem permitir o exercício da democracia. Uma audiência �pública� com convites direcionados, cujas regras não foram divulgadas, que não respeitava a ordem de chegada, �organizada� sem preocupação com a segurança e com os portões controlados pelo MST.

Ninguém me contou, eu estava lá e vi o tipo de democracia que começa a se instalar no Brasil."